Imagine você, no alto dos seus bem sucedidos 84 anos, ter a sua casa destruída por um incêndio. Nela, móveis queridos, obras de arte valiosissimas, registros e fotos de toda uma vida. Tudo destruído pelo fogo em poucos minutos.
Foi isso que aconteceu com o marchand Jean Boghici há poucas semanas no Rio de Janeiro. Saiu em todos os jornais e portais da Web. O valor da perda de parte do acervo de Boghici, que incluía obras de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, era incalculável.
E por que eu estou comentando essa história aqui? Porque esse senhorzinho, no meio do burburinho todo que a mídia fazia sobre o prejuízo cultural e material que o incêndio causou, em sua primeira declaração falou o seguinte:
“Não quero saber de quadro. Meu gato morreu. Isso é o que me dói. Estou muito traumatizado por causa da perda da Pretinha, que dormia ao meu lado.”
Fiquei com essa declaração na cabeça durante dias. Não quero entrar na discussão sobre o valor da perda cultural para a nação versus a perda pessoal do marchand. Não é disso que esse texto trata.
O que me chamou atenção é que na “hora do vamos ver”, do “pega pra capar”, pouco importa se o que você tem em casa vale dez centavos ou dez milhões. Pretinha tinha um lugar que obra-prima nenhuma conquistou na vida desse homem.
E parando para analisar, dadas às devidas proporções, com todo mundo acontece a mesma coisa: enchemos a casa de “Tarsilas” e “Di Cavalcantis” que passamos uma vida trabalhando para conquistar (“tudo dividido em pequenas prestações”). As nossas “obras” ficam lá: deixando a vida aparentemente mais “confortável” e encantando as visitas que entram em nosso lar. Raramente paramos para pensar no tempo e energia que gastamos para conquistar essas coisas. E se realmente isso vale a pena, já que o tempo é a coisa mais valiosa que temos.
Arrumando tudo que tenho em casa para a minha mudança em breve, adotei a seguinte pergunta antes de colocar as coisas na caixa: eu preciso realmente disso?
Vocês não imaginam como tem sido libertador descobrir que preciso de muito menos do que imaginava. O resultado disso é que hoje estou pensando duas vezes antes de comprar qualquer coisa. Consumindo mais conscientemente sobra um pouco mais de dinheiro e tempo para as coisas não materiais que realmente me fazem feliz e estou conseguindo a leveza que preciso para seguir em frente.
Amei o post!
Lindo o texto!! :)
A mais pura das verdades escritas! Adorei.
Estou montando casa nova e, por mais que eu também acredite no desapego, a gente sempre se pega juntando um ou outro objeto, guardando os móveis da mamãe e da vovó, que nem cabem direito na casa, já que as casas de outrora eram bem maiores que as de hoje. É legal manter essas lembranças para nós, os filhos e netos. Mas mais importante é o convívio! Ainda estou tentando equilibrar essa tendência em guardar e deixar ir.
Cláudia, eu acho super válido guarda coisas com valores sentimentais de verdade. Eu também tenho algumas coisas (até um prato do enxoval da minha tataravó). Essas coisas tem valor mesmo. O que eu acho é que as vezes a gente guarda coisas sem muita importancia, sem valor nem sentimental. Mas ainda estou tentando praticar o desapego também. Obrigada pela mensagem! beijocas,
Algumas coisas guardam o momento!