“Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.”
Foram quase 3 anos longe daqui. A pandemia me deixou cheia de questões que até hoje não sei como responder. Troquei de emprego no final de 2021. Vi minha vida pessoal virar de cabeça pra baixo em 2022. Quase perdi minha irmã mais nova para um problema sério de saúde, vi meus pais tristes e vulneráveis de um jeito que nunca tinha visto. Me vi impotente e pra baixo como nunca tinha me visto também. Minha irmã mais velha passou por uma gravidez de alto risco. Dias de UTI para ela e pra minha nova sobrinha.
Ufa passou! “Em 2023, vou realizar sonhos, aproveitar a vida.” E assim foi: realizei o sonho de levar Dora para conhecer as princesas. Curtimos dias delícias de rotina o ano todo. Desenvolvi uma relação bem mais saudável com o trabalho. Deixei a vida mais leve do exato jeito que eu havia planejado em meados de 2022. Para fechar o ano com chave de ouro, fizemos outra viagem que estava na lista de sonhos em novembro. Memórias, sabores, risadas. Tudo que mais queria pra esse ano.
No final do mês de novembro, numa quinta-feira, acordei bem humorada. Eu e Márcio até dançamos na cozinha. Fui trabalhar e na saída comprei sapatos brilhantes de salto lindos. Fazia uns 15 anos que não usava sapatos assim. Fui pra casa e brinquei de desfile com a roupa que usaria no Natal na casa da minha irmã mais velha. E aí recebi um telefonema que mudou tudo. Essa mesma irmã, a que daria uma festa no Natal, tinha sofrido um acidente vascular grave. Perdi o chão. No hospital, falando com o médico passei mal, fiquei no pronto socorro sendo atendida enquanto minha irmã entrava na sala de cirurgia.
Faz quase 3 meses que escrevi esse post. Resolvi deixar pra terminar depois pois achava que já teria um final feliz e aliviado pra contar. Ainda não tenho: minha irmã segue se recuperando, em um hospital de reabilitação, longe da filha que completou 1 ano sem ela. Não sabemos ainda como, nem quando, ela vai sair. Enquanto isso seguimos, um dia após o outro.
Porque se tem algo que as pessoas pouco falam é que quando acontece alguma coisa grave, com alguém que a gente ama muito, a rotina não se importa. Você continua precisando ir para o escritório de segunda a sexta, ainda precisa lavar o banheiro, pensar no jantar da filha e pagar a conta de luz enquanto o marido perde o emprego. A vida segue. Coisas boas e bem ruins continuam acontecendo com descaso de tudo que você já tá passando.
A vida não se importa, ela continua.
Eu aqui, com a minha dor, só espero que além de seguir, ela se ajeite. Volte pra um eixo, porque para o mesmo lugar sei que não vai voltar. Nesse trajeto resolvi me apegar às poucas coisas que ainda me dão sensação de controle. Escrever por aqui, compartilhar o que eu tenho vontade, da forma que eu tenho vontade, sem me preocupar com o que vai dar clique ou com o que o cliente vai achar, foi uma dessas coisas.
Por isso esse texto. Por isso esse compartilhar.
Espero voltar em breve com boas notícias. Enquanto isso seguimos. Um dia de cada vez.