Para mim a decoração tem que ser afetiva. Não importa se a mesa é velha ou se o bibelô é considerado brega. Se esses objetos têm história ou alguma relação sentimental com os moradores, eles têm razão para existir!
E eu acho lindo quando me dou conta que isso vem de família, que minha avó e minha mãe pensam do mesmo jeito.
Após a partida do meu avô, vovó se mudou da casa grande em que morava desde o seu casamento para um apartamento menor. Com a mudança alguns móveis que a acompanhava desde a época de recém-casada ganharam um novo lar.
Minha mãe, que estava montando uma casa de campo nova na época, herdou o jogo de sofá e o lustre que antes moravam na “sala de visitas” dos meus avós. O sofá ganhou um estofado novo, e o lustre, um lugar de destaque na sala nova.
A seguinte carta foi escrita pela minha avó e entregue para minha mãe junto com os objetos.
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Campina Grande, junho de 2011.
– Ei, você aí em cima! Está nos desconhecendo?
– Que nada! Apesar da roupa nova, do banho de loja, continuam os mesmos.
– Ficamos felizes de lhe encontrar, pensamos que seríamos relegados ao fundo de uma velha marcenaria, ruídos de ratos ou em alguma tapera! De que valeriam nossas lembranças? Com você podemos recordar.
– Ah! Que bom podermos conversar sobre os anos que passamos juntos, vendo crescer as crianças, festejando seus aniversários, vendo seus namoros, trocando afetos…
– Eu participei bem mais, afinal, era em mim que se aconchegavam. Fui quem primeiro ouvi suas juras, seus beijos furtados.
– Vocês lembram as crianças (hoje senhoras)? Eu recordo os mais velhos que conheci jovens ainda. Ele aquela aparente austeridade, aquele coração largo. Ela modesta, medrosa com a primeira filha nos braços, hesitante, temendo errar nas investidas da vida…
– Mas eu fui quem levei o primeiro xixi de todas três, pois você lembra, vieram “quase” todas juntas. Belos tempos!
– … E as visitas! Havia delas cerimoniosas, outras fofoqueiras. Todas bem-vindas, sempre amigas. Aqui em cima, às vezes, nem ouvia as conversas. Tinha uma curiosidade!
– As festas de 15 anos, formaturas, casamentos, participamos de todas. Os festejos de Natal! Como eram bons, as orações, as trocas de presentes, os enfeites… Tudo era festa, confraternização, alegria, união. Também a desordem geral quando a festa acabava!
– Nos sentíamos inigualáveis. Ninguém (ou melhor, poucos como nós) partilhavam de encontros tão agradáveis de fé, amizade, fraternidade. Uma riqueza do céu!
Fomos e somos felizes! Afinal, partilhamos a vida de uma família igualmente feliz. Dei meu colo a todos eles, abracei-os a meu modo, com afeto e carinho. Xixi de netos eu levei também!
– A meu modo também iluminei-lhes a vida. Foi recíproco, eles iluminaram a minha. Não ficamos abandonados. Juntos temos outra “saga” para cumprir. Bem-vindos a esta nova casa com alegria.
– Bem-vindos, sim! A vida continua.